terça-feira, 21 de julho de 2015

Editorial do Presidente - A Chama Crioula e a história do gaúcho

            O acendimento anual da Chama Crioula marca o início das atividades comemorativas da Revolução Farroupilha, o que atualmente denominamos “festejos farroupilhas”. Trata-se de momento importante e com alto grau de significação, mesmo porque o local escolhido é sempre um ponto histórico e que se presta a estudo e reflexão.

            Neste ano de 2015 o acendimento ocorreu no sítio histórico da Colônia do Santíssimo Sacramento, hoje cidade de Colônia no Uruguai. Quem esteve na cerimônia, no dia 12 de julho, sentiu a emoção de estar participando de um momento único e transcendente. A presença dos cavaleiros, o fogo crepitando no centro da praça maior, as pessoas emocionadas, tudo contribuiu para que pudéssemos realizar um ato histórico importante. No entanto, isso que fizemos, mais a cavalgada de Colônia ao Chuí, o desfile em Montevidéu e tudo o mais que ainda será feito, precisa servir para melhorar nosso conhecimento sobre o gaúcho, sua história e a herança cultural que recebemos.

            Fernando Assunção, um dos maiores historiadores do Uruguai, escreveu: “Conhecer o gaúcho é como por a mão sobre o peito aberto da pátria, sentir viva e quente a batida de seu coração”. Isso serve para todos que se sentem parte daquilo que se tem denominada “pátria gaucha ou gaúcha”.

            O mesmo historiador, em seu livro “El Gaucho”, afirma que “el gaucho es el producto axial de la cultura ganadera cimarrona de las pampas húmedas atlántico-platenses en la América del Sur. Es el habitante de la última gran frontera que constituyó dicha región”. Há quem diga simplesmente: “o gaúcho é filho do boi”.

              Não há dúvidas de que a estrutura social e cultural da pampa é uma consequência dessa atividade humana centrada na caça e depois na criação e exploração do gado vacum, sempre utilizando como meio de locomoção o cavalo.

            Aceitando essas premissas, voltamos à Colônia e lembramos que foi lá o surgimento dos primeiros gaúchos de influência portuguesa. O gaúcho com influência espanhola já tinha aparecido no Paraguai e na Argentina. Entre o surgimento de Colônia, 1680, e a fundação do Forte Jesus-Maria-José, 1737, há duas gerações de homens e mulheres de várias descendências (charruas, minuanos, guaranis, espanhóis, portugueses, mamelucos brasileiros e platinos) espalhados por um largo território que passou a ser disputado entre as duas coroas ibéricas.

            Cristóvão Pereira de Abreu – primeiro tropeiro do Rio Grande – levou as primeiras tropas de gado para o centro do Brasil, saindo de Colônia. Isso antes de haver qualquer ocupação portuguesa em território sul-rio-grandense. O Gaúcho nasce antes do Rio Grande. O gaúcho que cultuamos, que idealizamos, que cantamos e decantamos, nasce na pampa – esse espaço físico, sem delimitação precisa, que traz em si conceitos de apego à terra, de liberdade, de valentia, de guerra, de cavalo e de muito boi – se forma, se consolida e se transforma. O Gaúcho original não existe mais, não por ter desaparecido como ocorreu com o povo charrua, mas por ter se adaptado e se transformado. Daí a convicção de que o gaúcho de hoje é um conceito cultural. É produto de uma história única que teve a participação de várias culturas no momento da formação e que assimilou outras (especialmente a açoriana, a alemã e a italiana) no período de transformação que sucede a Revolução Farroupilha, episódio fundador da identidade da sociedade sul-rio-grandense.

            A Chama Crioula de 2015 que vem abençoada pelo Patrono do festejos farroupilhas Pe. Amadeu Canellas, quando chegar às praças públicas, aos CTGs, às escolas, aos acampamentos do Rio Grande do Sul, deve ser saudada como a representação da história do gaúcho que brotou da terra, que nasceu da pampa, que fez pátria entre Colônia e Laguna.

Manoelito Carlos Savaris

Presidente do MTG

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